Bolsa que reluzia!! Por Liquinha

Era dia de finados (por que será que tem este nome de finados hein?) e minha tataravó queria muito ir no cemitério levar flores para meu tataravô…Minha vó então resolveu levá-las pois era muito longe para ir de ônibus. Naquela época era uma viagem ir até a Palhoça. Foram todas num fusquinha branco da vovó, que naquele tempo nem sabia dirigir muito bem não. Era bem barbeira pois dizem que o tal fusca tinha cores diversas salpicadas pelos paralamas (um sucesso) ….Bem, levaram pano e uma vassourinha para limpar o túmulo (que nome feio né?). Chegaram e fizeram a limpeza, rezaram e lembraram dele e de muitos momentos bons. Ainda emocionadas voltaram para o fusca, pedindo licença para passar nos corredores mal cuidados e cheios de gente com saudade dos que se foram…..Em silêncio fizeram o caminho de volta, uns 20 kilometros de um caminho não muito fácil. Quando atravessavam a ponte bisa  deu um suspiro com aquela cara mais linda e amada do mundo, virou-se para a tia Nadir no banco de trás e pediu: ” Me passa a minha bolsa para eu pegar a chave da casa da mamãe?” Já estavam bem perto e com muita fome.. Foi quando a tia falou: “Não está aqui não! Vai ver que deixaste no cemitério!!!” Minha bisa querida tinha a fama que tudo esquecia….E era verdade. Ela tinha deixado em cima da sepultura para arrumar a sacola com a vassourinha e os panos de limpeza. Com a sacolinha no braço nem lembrou mais da bolsa. Empinou o nariz, deu um sorriso e falou para minha vovó ” Querida, ali à frente tem um retorninho, vamos dar mais uma voltinha…” Vovó não teve saída, mesmo chateada teve que voltar. O problema não era só a chave e sim todos os documentos e outras coisinhas naquela bolsa da bisa. Tia Nadir reclamava e dizia ” Tu és mesmo uma esquecida, como pode esquecer a bolsa? Não tens cabeça mesmo, nunca mais vás achar e ficaremos sem a chave para entrar em casa!!” etc etc A tata ria por dentro e achava graça de ter uma filha assim.. Vovó apostou 10 no veado e pisou no acelerador!! Levaram mais de hora e meia para lá chegar novamente. Naquela estradinha do entorno do cemitério o trânsito naquela hora tava infernal. Bem, lá pelas tantas a bisa desembarcou e foi rápido até o túmulo. Muita gente, muito tumulto e vovó ia pedindo licença para passar. Chegando perto já avistou por uma fresta do povo que algo reluzia em cima do túmulo. Que alívio. A bolsa continuava linda em branco e dourado se impondo e parecendo dizer que tinha dona. Dizem os que a conheceram que tudo o que ela perdeu na vida, sempre voltou de alguma maneira. Como se tudo dela fosse realmente protegido. E assim foi novamente. Minha mamãe hoje quando perde alguma coisa sempre reza para ela. E tem funcionado… Bem, a Bisa enganchou a bolsa no braço e bem faceira voltou para o carro. Não sem antes se voltar e dizer: “Obrigada papai, continue me protegendo Amém..”

Eu amo esta minha bisa!!!

Liquinha

foto de Edson Simas

2 comentários Adicione o seu

  1. Giulia disse:

    Lindona!!!

    Quantas saudades que eu tenho dessa sua bisa, Liquinha!!! Sabia que ela tinha o mesmo apelido que você? ;)

  2. Giulia disse:

    Aliás, ontem lembrei muito dela também, porque eu e sua vovó Rita fomos numa rua bem movimentada aqui de São Paulo e compramos uma réplica de um brinco que a Liquinha “original” tinha e que a sua vó adorava! hehehe

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